Folha de calendário que o escritor costumava guardar - esta de 1937 - com a data de seu aniversário e, coincidentemente, do aniversário da amada esposa Maria Laura.

 

 

No Recife, além da ventura de se sentir como homem feito (...). O seu reencontro com Maria Laura, a menina-moça filha do dr. Bruno Maia, médico e amigo da família e que viera ao mundo no mesmo dia e ano do seu nascimento.

 

 

Rua 1º de Março (1902).

 

 

Aniversário de 38 anos de casados - 1945

 

 

A vocação literária do escritor manifestou-se muito cedo no tempo em que era interno no Colégio Loureiro e colaborava num jornalzinho estudantil, A Lanceta. Recém chegado ao Recife, em 1902, o amor por sua Maria Laura, inspirou-lhe sonetos untados de romantismo.

 

 

Rua 15 de Novembro no tempo do jovem Mário Sette

 

 

A essa numerosa obra literária, somam-se todas as suas publicações em jornais e revistas brasileiras, argentinas, portuguesas e francesas, como também livros didáticos.

O Escritor Mário Sette

Por Hilton Sette

O escritor pernambucano Mário Sette nasceu na cidade de Recife, numa casa situada à rua Princesa Isabel, no dia 19 de abril de 1886. Foram seus pais o despachante aduaneiro Antônio Sette Júnior e sua esposa Ana Emília de Andrade Luna Sette. Seus avós paternos chamavam-se Antônio Câmara Rodrigues Sette e Felícia Travassos Sette, enquanto os avós maternos foram Antônio Rufino de Andrade Luna e Emília Gonçalves de Melo Luna.

Menino recifense no fim do século XIX, pertencente a uma alta classe média, viveu integrado na paisagem, hábitos e costumes da sua cidade. Assim, divertia-se muito com a mascarada que tanto animava os carnavais de então, cumpria rigorosas abstinências e assistia às numerosas procissões quaresmais, gostava imenso de fogos, sortes e adivinhações dos festejos juninos e vibrava com as temporadas nas praias de Olinda por ocasião dos fins e começos de ano.

Durante a infância, viajou por duas vezes à Europa, na companhia dos pais e demorou-se por lá durante vários meses em estações de águas e em visitas a cidades portuguesas, espanholas e francesas.
Aos quase onze anos, perdeu o pai fulminado por uma parada cardíaca enquanto dormia. A orfandade fê-lo deixar o Recife, uma vez que a mãe viúva preferiu ir morar com o pai, o “papai Luna”, que havia se mudado anos antes para Santos, em São Paulo.
Dois anos depois, em 1899, por haver contraído segundas núpcias, sua mãe fixou residência no Rio de Janeiro e Mário Sette conheceu o período mais amargo de sua vida. Não houve um bom entendimento entre ele e o padrasto que, para afastá-lo de casa, jogou-o no internato. Primeiro, no Colégio Paula Freitas, situado no centro da cidade, e, posteriormente, no Colégio Loureiro, no Engenho Novo, subúrbio da zona norte do Rio.
A 18 de setembro de 1901, o escritor Mário Sette reencontrou-se em caráter definitivo com o seu tão querido Recife. Já um rapazinho de quinze anos, não lhe foi possível conviver sem atritos com o padrasto sob o mesmo teto preferiu o sacrifício da separação de sua amada mãe, ao mesmo tempo não resistindo às saudades que sentia de sua Terra, de sua gente e dos familiares de seu pai. Veio morar com o tio Enedino Sette e com ele começou a trabalhar em seu escritório de despachante da Alfândega.
No Recife, além da ventura de se sentir como homem feito em contato com os parentes paternos, a alegria de rever ruas, subúrbios, festejos folclóricos, o hábito de frequentar os espetáculos do Teatro Santa Isabel e o Café 15 de Novembro, na rua do Imperador, um fato novo e inesperado. O seu reencontro com Maria Laura, a menina-moça filha do dr. Bruno Maia, médico e amigo da família e que viera ao mundo no mesmo dia e ano do seu nascimento.
O namoro e o noivado, inspirados por um recíproco e profundo amor romântico, seguiram à risca o ritual da época, não obstante o imediato beneplácito da família dela e a facilidade com que lhe visitava a casa, um sobrado na rua do Crespo, hoje 1º de Março.
O casamento teve lugar a 29 de junho de 1907 e o casal foi morar na rua Benfica, perto do Sobrado Grande da Madalena. Dessa primeira residência até a última em que morreu, na rua Neto de Mendonça 63, antigo Rosarinho, a família Mário Sette, como aliás era costume, durante quarenta e dois anos, habitou em 22 casas alugadas e 2 próprias, distribuídas no bairro da Boa Vista, em Olinda, em Casa Amarela, na Várzea, no Espinheiro e no Rosarinho.
De uma perfeita e feliz vida conjugal, houve três filhos. O primeiro, Hoel, nascido a 19 de dezembro de 1908 e falecido a 29 de maio de 1912. Hilton Sette, o seu segundo filho, bacharel em Direito, professor e escritor, nascido em 30 de julho de 1911. O segundo, Hoel Sette, médico, nascido a 19 de fevereiro de 1914 e falecido a 21 de Janeiro de 1963.
As atividades profissionais de Mário Sette tiveram início como auxiliar de escritório de despachante da Alfândega do tio Enedino Sette. Ao se casar, trabalhava no escritório da antiga companhia de trens da Great Western. Trabalhou também no depósito da companhia de Tecidos Paulista, por volta de 1908, quando foram inauguradas as primeiras Lojas Paulistas, hoje Casas Pernambucanas. Em dezembro de 1909, mediante classificação em concurso, foi nomeado para o cargo inicial dos Correios e Telégrafos de Pernambuco, onde militou, até se aposentar, no cargo de 1º Oficial, em 1942. Como funcionário postal telegráfico, exerceu, em comissão, as funções de Diretor Regional dos Correios e Telégrafos de Alagoas, no período de outubro de 1932 a junho de 1936.
No ano de 1925, o autor de TERRA PERNAMBUCANA ingressou no magistério particular, lecionando no então Instituto Carneiro Leão, a disciplina Instrução Moral e Cívica. Até pouco antes de adoecer, ministrou ensinamentos de História da Civilização, História do Brasil e Língua Francesa, em inúmeros educandários, entre os quais o Santa Margarida, Colégio Padre Félix, Escola Pinto Júnior, Colégio Oswaldo Cruz, Colégio Vera Cruz, Colégio São José e Faculdade de Filosofia do Recife.
A vocação literária do escritor manifestou-se muito cedo no tempo em que era interno no Colégio Loureiro e colaborava num jornalzinho estudantil, A Lanceta. Recém chegado ao Recife, em 1902, o amor por sua Maria Laura, inspirou-lhe sonetos untados de romantismo. Escreveu também, nessa época, versos humoristas e picantes para dois jornalecos recifenses desse gênero, A Pimenta e O Besouro.
Durante o primeiro lustro dos anos 10, o autor de MAXAMBOMBAS E MARACATUS devorou com os olhos e encheu suas estantes com coleções de obras de Victor Hugo, Emile Zola, Alphonse Daudet entre outros. A guerra de 1914 a 1918, fez-lhe vibrar de entusiasmo pela causa da França e dos Aliados. Como consequência a considerável influência francesa se fez sentir na sua primeira fase de ficcionista. O seu primeiro livro publicado, AO CLARÃO DOS OBUSES, reúne uma coletânea de contos, alguns deles muito influenciados por Daudet de exaltação à pátria gaulesa.
Daí em diante, a obra literária de Mário Sette é toda motivada em assuntos, paisagens, cenários, figuras humanas e costumes pernambucanos. Já ROSAS E ESPINHOS, em 1918, encerra contos com cenários recifenses, olindenses e caruaruenses; destacando-se entre os mesmos CABELOS BRANCOS e CLARINHA DAS RENDAS.
SENHORA DE ENGENHO, lançado em 1921, consagrou-o como escritor de âmbito nacional, sendo publicado em sete edições sucessivas, uma delas com tiragem de 5.000 exemplares. Este romance fotografa a vida dos moradores da casa-grande de um banguê da época em seus contatos com a gente e a paisagem interiorana envolvente. Em 1924, o romance O VIGIA DA CASA-GRANDE, que foi prêmio da Academia Brasileira de Letras, completa o romance anterior no que se refere ao quotidiano dos trabalhadores do eito, na fase de transição entre o patriarcalismo e o paternalismo.
A década dos anos 20 foi das mais fecundas para a pena mariossetteana. Em 1921, também, O PALANQUIM DOURADO, romance histórico comemorativo do centenário do movimento de 1820, que culminou com a Convenção de Beberibe e a deposição do último governador português em Pernambuco. Em 1922, os contos dialogados QUEM VÊ CARA... Em 1923, A FILHA DE DONA SINHÁ, romance caruaruense. Em 1924, O VIGIA DA CASA-GRANDE, já referido. Em 1926 e 1927, um livro de contos SOMBRAS DE BARAÚNAS e outro de três novelas JOÃO INÁCIO. EM 1928 e 1929, dois romances, um passado no Recife, AS CONTAS DO TERÇO, e o outro, numa cidade do Agreste, A MULHER DO MEU AMIGO.
No derradeiro das décadas de 30 e 40, as obras de ficção cedem lugar às de reconstituição da história social e pitoresca do Recife nos fins do século passado e começo do século XX. Apenas, publicou dois romances, SEU CANDINHO DA FARMÁCIA, considerado por ele mesmo o seu livro amargo, o outro romance, OS AZEVEDOS DO POÇO, com viés autobiográfico. Os demais publicados pertencem à série de crônicas de evocação do Recife antigo. Tais como MAXAMBOMBAS E MARACATUS, ANQUINHAS E BERNARDAS, BARCAS DE VAPOR, ONDE OS AVÓS PASSARAM e ARRUAR, seu verdadeiro canto do cisne.
A essa numerosa obra literária, somam-se todas as suas publicações em jornais e revistas brasileiras, argentinas, portuguesas e francesas, como também livros didáticos, VELHOS AZULEJOS, TERRA PERNAMBUCANA, MORAL E CIVISMO e HISTÓRIA DO BRASIL.
Em todas as três atividades profissionais a que se dedicou alcançou méritos de um realizado. Como funcionário ocupou o posto mais alto que podia atingir, na qualidade de Diretor Regional dos Correios e Telégrafos de Alagoas, anteriormente referido, constituindo o período mais longo em que viveu longe do Recife. Como professor, lecionou nos mais importantes educandários recifenses e foi professor catedrático fundador da Faculdade de Filosofia do Recife. Como escritor regionalista teve seu nome consagrado nas letras nacionais através de vários sucessos literários e muitos dos seus contos publicados em revistas e periódicos franceses, portugueses e argentinos.
O escritor Mário Sette faleceu em 25 de março de 1950, em sua residência, deixando viúva Maria Laura Maia Sette, seus dois filhos, Hilton Sette e Hoel Sette e sete netos.
Após sua morte, apareceram edições póstumas, TOQUE DE RECOLHER, pela Academia Pernambucana de Letras, ARRUAR, em 3ª Edição, MEMÓRIAS ÍNTIMAS, MAXAMBOMBAS E MARACATUS e outra edição de TERRA PERNAMBUCANA, todas estas pela Secretaria de Educação de Pernambuco e pela Fundação Municipal de Cultura.

(Em notas biográficas de Hilton Sette)