Costuma-se atribuir o chamado Ciclo da Cana-de-Açúcar aos romances de José Lins do Rego, porém, há quem afirme que foi Mário Sette que, com “SENHORA DE ENGENHO”, deu início ao mencionado Ciclo Literário, sete anos antes de José Américo de Almeida haver publicado “A bagaceira”.
Fotos de São José da Coroa Grande (PE) e de Maragogi (AL), cidades litorâneas que com seus costumes, seus engenhos e vida pacata, cativaram o escritor e inspiraram seus romances rurais
Entre papéis antigos, encontrei um exemplar da antiga e extinta REVISTA DO PARLAMENTO, Ano IV, N°s 3/5, Março-Maio, 1950 - Rio de Janeiro - Páginas 95 e 96, a qual transcreveu do Diário do Congresso Nacional discurso que pronunciei na Câmara dos Deputados, no dia seguinte ao desaparecimento do escritor Mário Sette.
Palavras que proferi com a emoção de quem tinha pelo saudoso escritor pernambucano amizade e admiração. Amizade – se assim posso dizer – até hereditária, por haver sido ele amigo de meu pai. E admiração pelos seus méritos pessoais e valiosa contribuição a nossa cultura.
É claro tratar-se de um simples discurso, mas eu o publico porque procurei,
naquela hora, dar uma visão de Mário Sette, como pessoa humana e como escritor.
E por desejar difundir sua imagem entre os atuais integrantes das Academias de
meu Pernambuco, de Estados vizinhos e das Academias do Rio de Janeiro, onde também
sou membro de algumas delas.
Mário Sette nasceu no Recife, em 19 de abril de 1886 e faleceu, na mesma
cidade, em 25 de março de 1950, ou seja, aos 63 anos de idade.
Órfão de pai aos 11 anos foi, em companhia de sua mãe, morar
com seu avô em Santos, São Paulo. Com 15 anos, voltou sozinho, ao
Recife. Autodidata, fez carreira no Serviço Público Federal, ingressando,
mediante concurso, nos Correios e Telégrafos. Dedicou-se também
ao magistério. Foi professor de História do Brasil em vários
educandários, inclusive na Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE) da
qual foi um dos fundadores.
Atualmente essa Escola de Ensino Superior chama-se Faculdade Paula Frassinetti,
nome da fundadora da Ordem das Dorotéias - Faculdade ainda hoje agregada
à Universidade Federal de Pernambuco.
Segundo pesquisas de Lucilo Varejão Filho, Mário Sette começou escrevendo
versos, que não chegou a reunir em volume. Em seguida, passou a colaborar,
com assiduidade, através de crônicas, contos e comentários,
em periódicos de Pernambuco, Rio e outros Estados.
SENHORA DE ENGENHO teve várias edições, inclusive uma edição
espanhola. O VIGIA DA CASA GRANDE obteve prêmio da Academia Brasileira de
Letras. Obras suas foram também publicadas em Portugal, pela editora Lelo
& Irmão. MAXAMBOMBAS E MARACATUS são, segundo Gilberto Freyre,
"crônicas cheias de cor e emoção sobre o 1900 pernambucano."
Costuma-se atribuir o chamado Ciclo da Cana-de-Açúcar aos romances
de José Lins do Rego, porém, há quem afirme que foi Mário
Sette que, com “SENHORA DE ENGENHO”, deu início ao mencionado
Ciclo Literário, sete anos antes de José Américo de Almeida
haver publicado “A bagaceira”.
Por falar em obras literárias, anote-se haver sido Mário Sette,
em Pernambuco, um dos grandes cultores da Literatura Francesa.
Ele tinha o hábito de homenagear escritores e amigos, imprimindo
seus nomes em suas obras. Alguns desses nomes fizeram-no lembrar o seu
encantamento pela cidade de Caruaru, segundo ele – “a
mais linda, a mais doce, a mais acolhedora das cidades serranas de Pernambuco."
Semelhante encanto ele tinha por Olinda, conforme sua neta, professora
Hílcia Maria Sette Melo Rego.
Uma dessas homenagens impressas foi prestada aos filhos Hilton e Hoel.
Hoel, médico. Hilton, professor de Geografia e autor de livros sobre essa
disciplina. Destacado Geógrafo, como também o saudoso Mário
Lacerda e o confrade Manoel Correia, que também é historiador.
Curioso é que Hilton Sette, por muito tempo, dedicou-se apenas a sua matéria;
e, somente após haver perdido a visão veio a voltar-se para a literatura,
passando a escrever romances. E foi com esse gênero literário que
se elegeu para a Academia Pernambucana de Letras, feliz por haver ingressado,
como seu saudoso pai, na Casa de Carneiro Vilela, hoje centenária.
Quem desejar conhecer a obra de Mário Sette encontrará nas bibliotecas
os seus livros ou poderá aprofundar-se mediante a leitura dos estudos publicados,
a respeito, por Lucilo Varejão Filho, poeta, ensaísta, professor
aposentado da Cátedra de Francês do Ginásio Pernambucano e
do Departamento de Letras da UFPE, sendo titular da Centenária Academia
Pernambucana de Letras.
Entre os livros de Mário Sette posso lembrar: AO CLARÃO DOS OBUSES;
ROSAS E ESPINHOS; SENHORA DE ENGENHO; QUEM VÊ CARAS; A FILHA DE DONA SINHÁ;
O VIGIA DA CASA GRANDE; O PALANQUIM DOURADO; SOMBRAS DE BARAÚNAS;
AS CONTAS DO TERÇO; A MULHER DO MEU AMIGO; JOÃO IGNÁCIO;
SEU CANDINHO DA FARMÁCIA; TERRA PERNAMBUCANA; BRASIL, MINHA TERRA;
VELHOS AZULEJOS; MORAL E CIVISMO; OS AZEVEDOS DO POÇO; MAXAMBOMBAS
E MARACATUS; ANQUINHAS E BERNARDAS e ARRUAR.
Enfim, essa minha publicação, pela sua modéstia, não
pode constituir um gesto pretensioso, senão marcar uma homenagem e ser
o registro de uma saudade.
Fonte: Discurso na Câmara Federal por Jarbas Maranhão in Diário do Congresso Nacional pela Revista do Parlamento. “Mário Sette – Latinidade e Regionalismo”. Rio de Janeiro: 2006.