(...) devo a Mário Sette e a Tonico Silva os primeiros passos na formação de minha pernambucanidade (...)
Foi Mário Sette o meu primeiro autor. Partiram de suas obras as minhas primeiras leituras e o início da formação da minha pernambucanidade.
Bem antes de qualquer outro autor, quando mal comecei a ler as primeiras leituras, já a minha bondosa mãe, professora primária Lídia Dantas da Silva, colocou-me nas mãos a primeira edição de “TERRA PERNAMBUCANA”. A maneira romanesca de contar fatos de nossa história, a riqueza de detalhes que só ele (Mário Sette) sabia atribuir a episódios e personagens do nosso passado se prolongavam através das quase eternas conversas entre eu e meu pai, Antônio Machado Gomes da Silva Neto, a quem eu tratava carinhosamente pelo apelido familiar de Tonico.
Foi de Tonico que recebi “MAXAMBOMBAS E MARACATUS”, cuja edição,
ainda com riscos de menino de ontem, hoje encontra-se guardada com carinho pelo
homem de hoje.
Na adolescência adquiri o “ARRUAR”, livro através do
qual Mário Sette procura aprofundar alguns assuntos já tratados
em “MAXAMBOMBAS E MARACATUS”. Li a obra de um só fôlego,
mas continuei a reler até os dias de hoje, quando o livro se torna em
fonte de deleite e de consulta.
Infelizmente não conheci Mário Sette, que veio a falecer
(25.03.1950) quando ainda tinha eu quatro anos. Sei apenas de sua estreita
amizade com um irmão do meu pai, Adolpho Silva Filho, sobre o qual
narra certo episódio acontecido em Caruaru no livro “SOMBRA
DE BARAÚNAS”. Foi Mário Sette, juntamente com Viriato
Corrêa (Historia do Brasil para Crianças), o meu primeiro
professor de História. Mas ainda: devo a Mário Sette e a
Tonico Silva os primeiros passos na formação de minha pernambucanidade,
ou melhor, como diria Gilberto Freyre, da minha recifensidade;
talvez a minha primeira noção de Pátria, no sentido
exato que tão bem descreveu Ariano Suassuna ao receber o título
de Cidadão do Recife.
Foi Mário Sette que despertou em mim esse bairrismo acentuado,
esta veneração pelas tradições desta quatrocentenária
Cidade de Santo Antônio do Recife, onde Tonico Silva possuía,
poeticamente, um amigo em cada esquina e em cada bar um prego para
pendurar minhas (suas) contas...
E todas as lições aprendidas de Mário Sette não
poderiam ficar longe das gerações atuais, muito menos dos estudantes
do meu Estado. (...)
Fonte: Notas do Editor da reedição de SETTE, Mário. “Arruar – história pitoresca do Recife antigo”, Coleção Pernambucana, Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1975