Sede da Liga Pernambucana Pró-Aliados do Recife, 1916
ARRUAR também significa passear com ostentação a pé ou montado, correr as ruas. Embora o autor vivesse "muito trancado no seu lar, sentindo-se muito bem dentro dele" - conforme revelou, banca nestas páginas, no bom sentido, o arruaceiro do Recife dos tempos que já se foram. E assim o faz com a autoridade de quem nasceu naquela cidade, no dia 19 de abril de 1886, e lá viveu, com exceção de 9 anos, até a morte. Só deixou a sua terra natal com a idade de 11 anos, para lá voltar com 16, depois de ter feito os estudos secundários no Rio do Janeiro, e de 1932 a 1936, quando permaneceu em Alagoas.
O curso primário ele o fez com o seu avô materno, o professor Antônio Rufino de Andrade Luna. Não se formou, mas apesar disso era, para todos os fins, o dr. Mário Sette, ilustre historiador, a essa matéria se dedicou desde cedo. Seu primeiro livro, AO CLARÃO DOS OBUSES, contos de guerra, editou-o a Liga Pró-Aliados, do Recife, de que foi o 1º Secretário. "Em seguida emendou a mão," confessa, “e deixou o estrangeiro à margem: cuidou de sua terra e de sua gente, do que não se arrependeu até hoje".
Escreveu contos regionais, entre eles “Clarinha das Rendas”, de que
Bilac tanto gostou; romances regionais, como “SENHORA DE ENGENHO”,
obra que revelou Mário Sette ao Brasil, e “OS AZEVEDOS DO POÇO, além
de outros: crônicas regionais como MAXAMBOMBAS E MARACATUS, ANQUINHAS E
BERNARDAS, muito conhecidas; obras didáticas, entre as quais TERRA PERNAMBUCANA,
também repassadas de seu regionalismo pitoresco e bom: Com o mesmo requintado
gosto pelo regional e o seu estilo vivo de romancista, Mário Sette nos legou “Arruar
- história pitoresca do Recife antigo”. Do Recife dos cavalos a galope
pelas ruas, das cadeirinhas e das diligências; dos bondes de burro e das
maxambombas; das gazetas de dois vinténs, dos homens de fraque e de chapéu-coco,
dos negros carregando "tigres" mal cheirosos para o mar então
degradado, das “iaiás” brancas e de longos cabelos tomando
banho de rio, nobilitado rio como eram todos naquela época. Recife dos
"tigres" e cambrones, dos lampiões e candeeiros, das bicas e
torneiras, das procissões ortodoxas, rigorosas, com mulheres de pés
descalços, homens caminhando de joelhos ou se torturando, negrinhos vestidos
de Senhor dos Passos; Recife dos tribofes e das cômicas, dos tipos populares
como Pensamento e Leseira. Enfim a crônica viva do velho Recife heróico,
que na história nos deu os invasores holandeses derrotados, a Guerra dos
Mascates, a Revolução de 1817, a Confederação do Equador,
a Revolução Praieira, os heróis nativistas Henrique Dias,
Frei Caneca, Padre Miguelinho, Nunes Machado, os tribunos abolicionistas Joaquim
Nabuco e José Mariano, os extremistas republicanos Martins Júnior
e Trigo de Loureiro, a Faculdade de Direito criada pelo Imperador Pedro I, as
polêmicas de Tobias e Romero.
A história desse Recife, nos 4 séculos de evolução,
é retratada pelo professor Mário Sette, com direito e autoridade, neste
livro, 1º volume de coleção Brasil que não conhecemos,
ilustrado pelos talentosos desenhistas pernambucanos Luís Jardim e Percy-Lau
e com fotografias e fac-símiles da época.
Fonte: Arquimedes de Melo Neto in Nota do Editor da 1a Edição de SETTE, Mário. Arruar. Rio de Janeiro: Livraria-Editora da Casa do estudante do Brasil, 1948.