9ª edição, de 1968
Sua história é plena de figuras, também imortais, ora como defensores do solo, da religião, da cultura, livrando-os da influência do invasor holandês, ora nas lutas de independência, rebelando-se e libertando-se do jugo colonizador.
10ª edição, de 1981
Durante quase três décadas alcançou nove edições, sempre a despertar nas novas gerações de então aquilo que mais tarde Gilberto Freyre veio a denominar de “o melhor de nossa pernambucanidade”.
Mário Sette foi a porta de entrada no conhecimento das Histórias e lendas que povoam o passado de Pernambuco.
Há cerca de meio século surgia a primeira edição deste manual de história e destinava-se à leitura nas escolas públicas e particulares do Estado. Várias gerações do tempo em que se aprendia soletrando, leu “por cima" este repositório de lutas, heroísmos, e glórias do povo pernambucano.
Seu autor, o professor Mário Sette, escreveu-o sem pretensões além das de perpetuar os destemidos feitos dos antepassados da sua Terra e transmiti-los à curiosidade e ao entusiasmo da juventude. Seu estilo simples, ao mesmo tempo, que eficiente, suave, mas efusivo, melodioso até, porém, viril, transmitiu tal sentimento de nativismo sadio que, não há um só ex-estudante leitor destas páginas, delas não se lembre auspiciosamente.
Essa saudade coletiva do tempo do Curso de Admissão reconstituiu o livrinho
épico e documentário numa espécie de Carteira de
Identidade dos que aprenderam a amar o seu Pernambuco! Imortal! Imortal!
Sua história é plena de figuras, também imortais, ora como
defensores do solo, da religião, da cultura, livrando-os da influência
do invasor holandês, ora nas lutas de independência, rebelando-se
e libertando-se do jugo colonizador. Assim, teremos a satisfação
de recordar nestes capítulos as gloriosas figuras de um Salvador de Azevedo,
do modesto e grandioso vigário Tenório, de Matias de Albuquerque,
André Vidal, Camarão e Henrique Dias e seus feitos, ou celebrar
a memória do padre Roma, o “altivo e generoso" emissário
da Revolução de 1817; do padre Miguelinho, o estóico signatário
de documentos libertários do povo de Pernambuco e do Nordeste; do frei
Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca, figura admirável de intelectual,
sacerdote e revolucionário.
Na descrição desses lances emocionais ou na crônica do cotidiano
do Recife, sua evolução e seu crescimento, sente-se pulsar no
coração do velho professor Mário Sette, - Prêmio da Academia
Brasileira de Letras, impregnado de intenso sentimento nativista e de profundo
amor ao seu burgo. TERRA PERNAMBUCANA é um livro todo de bem-sentir e
saudade, devotamento à origem e vibração cívica
do autor de tantas outras obras que constituem a sua variada galeria de contos
e novelas, romances, história, obras de moral e civismo, e didáticas.
Nas mãos dos ex-alunos do saudoso e querido Professor depõe esta
editora o relicário representado pelas páginas repassadas de valor
humano e do labor diuturno que plasmaram a civilização pernambucana
com seus tragos e toques peculiares, rica afirmação regional no
fabuloso continental que é o Brasil.
Pródigo de ilustrações, estas são devidas ainda
ao esforço do escritor ao inspirá-las, guardá-las e resguardá-las
através do tempo.
Fonte: Notas do editor por Arquimedes de Melo Filho, in SETTE, Mário. Terra Pernambucana. 9a Edição. São Paulo: Arquimedes Edições, 1968.
O primeiro livro de leitura fica para sempre marcado na lembrança de qualquer um. O homem de hoje está sempre a relembrar o livro do menino de ontem, quer seja ele a carta de ABC (...Paulina mastigou pimenta ...), quando lida em forma de cantilena com outras crianças, ou os de Felisberto de Carvalho, cujas estórias motivaram expressões populares que chegaram até aos nossos dias: “é o cão do segundo livro!...”
Grande parte das pessoas de mais de 40 anos, teve em TERRA PERNAMBUCANA,
de Mário Sette, o seu primeiro livro de leitura. Livro simples,
surgido em 1925, de linguagem fácil e atraente, foi, por muito
tempo, adotado como texto oficial nas escolas primárias da rede
oficial do estado de Pernambuco. Durante quase três décadas
alcançou nove edições, sempre a despertar nas novas
gerações de então aquilo que mais tarde Gilberto
Freyre veio a denominar de “o melhor de nossa pernambucanidade”.
Escrito em forma de crônica, sem muito apego às datas e aos documentos
históricos, TERRA PERNAMBUCANA foi aquilo que Oliveira Lima chamaria de
“petite histoire”. A nossa pequena história, com personagens
menores, sem a preocupação com os grandes feitos, com as grandes
batalhas e com o rigorismo de uma sequência de acontecimentos bélicos
que por vezes se distanciam das causas sociais resultantes da formação
de um povo.
Mário Sette foi mais além. Escrevendo em forma de crônica,
o seu TERRA PERNAMBUCANA trouxe para todos os seus sempre discípulos,
acontecimentos do dia-a-dia que ainda hoje passam despercebidos para os
analistas e historiadores sociais. Dele se poderia repetir o comentário
de Oliveira Lima feito à obra de Alfredo de Carvalho, em artigo
publicado n'O Estado de São Paulo, de 25 de março de 1910:
“a nossa ‘petite histoire’, a nossa história
anedótica, a nossa história dramática, cômica,
picaresca e trágica, considerada nos seus aspectos pessoais, extravagantes,
humorísticos e lancinantes”.
Mário Sette, a exemplo de Monteiro Lobato e de Viriato Correia,
soube captar a pureza das mentes infantis e escrever uma História
de Pernambuco para crianças. Uma história movimentada, cheia
de tipos e episódios que também despertam a curiosidade
dos adultos; aquilo que Oliveira Lima veio denominar “o simpático
caminhar do povo pernambucano”.
(...) A reedição deste TERRA PERNAMBUCANA vem sendo pedida de há
muito, inclusive bem recentemente pelo Prof. José Antonio Gonçalves
de Mello - ele próprio um dos que leu, menino, este livro e foi por ele
marcado - quando do lançamento da obra-póstuma de Mário Sette,
MEMÓRIAS ÍNTIMAS, em discurso proferido no Teatro Santa Isabel,
na noite de 10 de fevereiro de 1981.
(...)
Para este que escreve estas linhas, Mário Sette tem o sabor de infância:
relembra os sonhos infantis, as lendas sobre aspectos da História de Pernambuco
contadas pelo preto Dionísio (Antônio Dionísio dos Santos),
a quem chamava pelo carinhoso apelido de "Pai Velho”, pela avó
materna Guilhermina, e por tantas outras figuras que marcaram a infância
de menino pobre do Taquari, convivendo em antigas terras do Engenho da Torre.
Mário Sette foi a porta de entrada no conhecimento das Histórias
e lendas que povoam o passado de Pernambuco. TERRA PERNAMBUCANA, livro
rabiscado pelo menino de ontem e guardado "com carinho pelo homem
de hoje, e o retrato falado de meu saudoso pai Tonico Silva (Antônio
Machado Gomes da Silva Neto), falecido em 29 de setembro de 1966, a cantar
estórias: “o balão de Zé da Luz”, a revolução
de Dantas Barreto, a Epidemia Espanhola, os brabos e capoeiras, as lendas
envolvendo a devoção à Nossa Senhora dos Prazeres
dos Montes Guararapes, o cinema mudo, o tapiofone, o footing
da Rua Nova, o primeiro automóvel, a boleira do barão, a
construção do porto do Recife (onde ele ingressou em cerca
de 1915), tipos populares como Nascimento Grande e Antônio Silvino,
o carnaval do início do século, os saraus do bairro de São
José, o Mercado de Delmiro Gouveia, o Derby Club, as festas
do Club Internacional, a chegada do Jaú, o aparecimento
do Graf Zeppelin, as estórias de assombrações,
os primeiros bondes elétricos (participou da montagem dos 30 primeiros),
o aparecimento da energia elétrica e suas primeiras vítimas
(ele foi o terceiro atingido por choque elétrico), as companhias
líricas no Teatro Santa Isabel, a maxambomba e uma infinidade de
fatos que Mário Sette soube perpetuar em letra de forma.
TERRA PERNAMBUCANA me traz a presença vigilante de minha mãe, Ilidia
Barbosa Dantas Silva, professora primária, que, apesar da Escola Experimental
Governador Barbosa Lima somente adotar aqueles livros didáticos impressos
no Rio de Janeiro e São Paulo, totalmente fora de nossa realidade, me incentivou
a ler Mário Sette e Felisberto de Carvalho ainda nos meus verdes seis anos
de idade. Através dela conheci, além de Mário Sette, Viriato
Correia, Monteiro Lobato, José Lins do Rego, José de Alencar, Joaquim
Manuel Macedo, Joaquim Nabuco, Pereira da Costa, Pedro Calmon e uma infinidade
de outros autores que se tornaram responsáveis pela formação
do adolescente retraído e tímido do início dos anos 60.
Esta publicação de TERRA PERNAMBUCANA tem o seu texto reproduzido
da primeira edição de 1925, ao qual foram anexados 20 outros capítulos
acrescidos pelo autor nas que se seguiram à primeira.
As ilustrações são em sua maioria de autoria deste notável
artista pernambucano que foi Nestor Silva e, em menor número, de outro
não menos notável cultor das artes plásticas que foi Henrique
Moser.
(...)
Recife, Nossa Senhora do Rosário da Torre, 19 de outubro de 1981.
Fonte: Trecho do Prefácio de Leonardo Dantas Silva in: SETTE, Mário. Terra Pernambucana. 10a Edição. Coleção Recife. Vol.XV. Recife: Companhia Editora de Pernambuco CEPE,1981.