Para Mário Sette “os versos populares escrevem também a história de uma cidade. Não somente a história política, mas a social. Recolhê-los, quando não descobri-los, por escondidos em publicações esquecidas, é reconstituir colorida e saborosamente o passado, quer nas linhas mestras, quer nos pormenores, dos seus diz-que-diz, nas suas malícias, num quotidiano característico”.
Mário Sette foi o cronista do Recife, nada escapou a sua observação e ao burilado de sua pena, mostrando-se sempre atento a usos e costumes, histórias pitorescas, fatos mundanos, intrigas políticas contidas nas entrelinhas de antigos cronistas, de modo a tudo reunir, com cores vivas e contagiantes, em páginas que se tornaram célebres a ponto de serem decoradas.
Em ANQUINHAS E BERNARDAS, Mário Sette aborda a “farta
contribuição da musa do povo. Uma folha diária, um
almanaque, um livro de sortes, um hebdomadário ilustrado –
todas essas fontes se oferecem dadivosas aos que em sua busca andam ávidos
de um flagrante antigo. Lemo-los com a curiosidade de quem almeja penetrar
às épocas transatas e interpretar-lhes o cenário, o ambiente,
a vibração, conhecendo-lhes os fatos do dia, os comentários,
as críticas”.
Assim, quando nos solicitaram a publicação de um livro comemorativo
ao Centenário de Nascimento de Mário Sette, de imediato nos lembramos
desse quase esquecido ANQUINHAS E BERNARDAS, praticamente desconhecido das novas
gerações, que, por certo, em muito saberão valorizar a forma
de apresentação dos seus diversos capítulos.
Numa linguagem amena, que sempre caracterizou os seus escritos, Mário Sette
supera a si próprio, em ANQUINHAS E BERNARDAS, apresentando os temas com
um sabor especial bebido na alma do povo, com versinhos a relembrar a sátira
de O Carapuceiro, jornal de críticas escrito pelo padre Miguel do Sacramento
Lopes da Gama, o romantismo dos “livros de sorte”, os “alfinetes”
dos jornais políticos e as estrofes curiosas colhidas diretamente da linguagem
oral, da fala do povo, como bem ensina o poeta.
Esta edição de ANQUINHAS E BERNARDAS, destina-se às comemorações
do primeiro centenário de nascimento de Mário Sette, este recifense
que tanto soube valorizar as letras de sua terra contribuindo, de forma eficaz,
na formação da pernambucanidade de várias gerações
que beberam na sua crônica histórica a seiva primeira do nativismo.
Fonte: Nota do Editor – Leonardo Dantas Silva da Edição Comemorativa do Centenário de nascimento de Mário Sette (1986-1987) in: SETTE, Mário. Anquinhas e Bernardas. Coleção Pernambucana, 2a Fase. VOL.XXXIV. Recife: FUNDARPE, 1987.
“ O velho Recife! Como ele se parece com o velho Rio de Janeiro, com a velha Bahia, com o velho Brasil inteiro!”
Aqui está documento magnífico das origens da unidade nacional. Todos
nós nos parecemos muito, do norte a sul, hoje como ontem.
É o que concluímos ao cabo destas páginas.
Fonte: SETTE, Mário. Barcas de Vapor. Cenas do passado Brasileiro. São Paulo: Edições Cultura, 1945.