Mário Sette, o precursor do Modernismo no Nordeste e do Regionalismo nordestino do século XX e, consequentemente, um antecipador dos discursos ensaísticos de Gilberto Freyre e das narrativas romanescas de José Américo de Almeida e de José Lins do Rego, ícones literários do Modernismo nordestino.
A obra de Mário Sette é um álbum de fotografias. Seus textos são como retratos de assuntos que o escritor elegeu para guardar na memória.
O mundo do engenho do Brasil tem, desde o período da conquista e da colonização, se constituído como tema privilegiado dos discursos europeus, a exemplo das crônicas quinhentistas, de viajantes e colonizadores, além de inúmeras menções contidas nas Cartas jesuíticas especialmente as de José de Anchieta e as de Manuel da Nóbrega, alcançando, em 1711, uma enorme visibilidade com a obra “Cultura e opulência do Brasil”, do Pe. Antonil.
Presente nos mais variados discursos da fase colonial, a tematização
da empresa lusitana do açúcar, no Brasil, perpassaria os
textos dos períodos que sucedem a nossa autonomia, garantindo sua
frequentação tanto no discurso literário, quanto
no discurso ensaístico e sociológico. Nos inícios
do século XX, essa temática seria retomada, como centralidade,
pelo pernambucano Mário Sette, com a obra SENHORA DE ENGENHO. A
publicação desse discurso romanesco, em 1921, tornaria Mário
Sette o precursor do Modernismo no Nordeste e do Regionalismo nordestino
do século XX e, consequentemente, um antecipador dos discursos
ensaísticos de Gilberto Freyre e das narrativas romanescas de José
Américo de Almeida e de José Lins do Rego, ícones
literários do Modernismo nordestino.
Longe de arrefecer,
como motivação discursiva, a sociedade do açúcar
seria novamente retomada, como discursividade romanesca, em fins do século
XX, com a publicação de obra ”Coivara da memória”,
de Francisco Dantas, publicada em 1991.
Cientes da importância do
universo açucareiro em nossos mais diversos discursos culturais,
empreenderemos uma leitura comparativa entre as obras “Cultura e
opulência do Brasil”, do Pe. Antonil, e SENHORA DE ENGENHO,
de Mário Sette, buscando observar os traços representativos
que “informam” e “enformam” esses discursos sobre
o mundo do engenho do Brasil.
Para a realização de nosso
propósito, nos valeremos de uma abordagem teórico-metodológica
interdisciplinar, mais precisamente dos pressupostos da “Crítica
Integral”, esboçada pelo crítico brasileiro Antonio
Candido, desde os inícios da segunda metade do século passado.
Fonte: GUEDES, Nathassia Maria de Faria. Discursos
sobre o mundo dos engenhos: Uma Leitura das obras de Antonil e Mário
Sette. João Pessoa: UFPB, 2009.
"A obra de Mário Sette é um álbum de fotografias. Seus textos são como retratos de assuntos que o escritor elegeu para guardar na memória".
Em sua pesquisa, Magdalena Almeida procurou “identificar registros
das modificações pelas quais passaram o cotidiano e a mentalidade
na cidade do Recife através da obra de Mário Sette e a forma
como o autor tratou essas modificações diante do principal
conflito por ele vivido: conciliar tradição e progresso”.
Ela ressalta que um objetivo implícito
no seu trabalho “é a demonstração da possibilidade
de utilização da literatura produzida por Mário Sette
como fonte para identificação de aspectos históricos
da cidade”.
Fonte: ALMEIDA, Magdalena. Mário Sette: o
retratista da palavra. Recife: Fundação de Cultura
Cidade do Recife, 2000.
Mário Sette, cronista popular e romancista pernambucano de reconhecido talento no início do século XX brasileiro, representou a vida social cotidiana do Recife no século XIX, e retratou a sociedade de então a partir da atração dos portos, não só pelos correios, há pouco instalado, mas da reluzente hipocrisia ordinária de uma sociedade dependente, bem como o comércio de vidas humanas e a tacanha visão da sobrevivência: tudo era pelo porto.
Como poucos, constrói vários quadros dessa mesma sociedade
ao revelar, através dos artigos de jornais representativos como
o Diário de Pernambuco, jornal mais antigo da América Latina
em circulação, o cotidiano coletivo, a cidade litorânea,
portuária, capital, metrópole imperial – o nojo do
rio, o nojo do negro, o nojo da feijoada, da maré, a européia
civilização “branquicela”, na verdade mestiça
e escravocrata.
Mário Sette, que ainda viveu no Recife os tempos das maxambombas e bondes-de-burro,
no final dos oitocentos e primeira metade do século XX, destaca, em anúncios
de jornais, fotografias e telas a tentativa de uma cidade em obter sincronia através
dos transportes – na verdade, um meio de comunicação e a navegação,
já que as estradas terrestres pouco davam em lugar que não fossem
as rotas pelos negócios dos engenhos. A vida girava em torno do porto,
não só em Recife, mas em todas as cidades portuárias.
Fonte: Porto Navegação e vida social antiga: Um cronista e o cotidiano do Recife nos meados do século XIX foi apresentado originalmente na Tese de Mestrado in BARBOSA, José Humberto. Um Êxodo esquecido. O Porto do Recife e o Tráfico Interprovincial de escravos no Brasil: 1840-1871. Curitiba: UFPR, 1995.