o romance apareceu, à venda, na primeira quinzena de fevereiro de 1921 e logrou um êxito de best-seller.

 

 

 

 

 

"Foi exatamente na época em que vivíamos assim, na nossa casinha modesta do Arraial, e com o nosso primeiro filho, que eu realizei a viagem à Tracunhaém da qual nasceria este romance"

 

 

 

 

 

Tracunhaém na época em que inspirou o romance.

 

 

 

 

 

A emoção de deslumbramento experimentada por meu pai, na manhã seguinte, ante o cenário que compunha e envolvia a sede do engenho Floresta, ele a transferiu nas páginas do romance para a Hortência.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ainda houve uma quarta, uma quinta e uma sexta edições do SENHORA DE ENGENHO. A quarta apareceu em Portugal, sob a responsabilidade da Editora Lelo, da Livraria Chardron, do Porto, numa coleção onde foram publicados, também, A FILHA DE DONA SINHÁ; SOMBRAS DE BARAÚNAS e JOÃO IGNÁCIO.

 

 

 

 

 

Detalhe de um típico engenho de cana de açucar que, entre tantos temas rurais, inspirou o autor a escrever o romance.

 

 

 

 

 

Em 1924, empregando o mesmo método de cinematografar, literariamente, o cotidiano das comunidades humanas dos banguês, meu pai publicou pela Editora Lelo, de Portugal, o romance O VIGIA DA CASA GRANDE prêmio da Academia Brasileira de Letras, que representa um complemento do SENHORA DE ENGENHO.

 

 

 

 

 

Ilustração de antiga moenda de cana de açúcar

 

 

 

 

 

Os temas da conversa são os cotidianos das pequenas cidades de um interior ainda sem rádio ou televisão, pois é preciso lembrar que estamos nos anos 20, do século XX.

 

 

 

 

 

Uma espécie de simpatia nacional envolveu a figura e terminou por inspirar uma das mais belas composições do nosso cancioneiro popular, ao levar o músico pernambucano Lourenço Barbosa, o Capiba, a compor o seu Maria Betânia nacionalmente divulgado na voz de Nelson Gonçalves.

 

 

 

 

 

O próprio Mário Sette adaptou o SENHORA DE ENGENHO à forma de uma peça de teatro.

 

 

 

 

 

Cena da peça SENHORA DE ENGENHO, levada à cena pela primeira vez em 1943, no Teatro de Santa Isabel.

SENHORA DE ENGENHO (1921)

A História deste livro

Hilton Sette

A semente do SENHORA DE ENGENHO viu-se cultivada na inspirarão do escritor Mário Sette quando este, lá por volta do ano de 1910, então funcionário da antiga Administração dos Correios de Pernambuco, recebeu a incumbência de inspecionar, em comissão, a Agencia Postal de Tracunhaém.

Meu pai evoca em MEMÓRIAS ÍNTIMAS e em APONTAMENTOS AUTOBIOGRÁFICOS (inéditos) as suas reações de agrado e encantamento experimentadas nessa curta e imprevista excursão à Zona Canavieira. Numa certa manhã, a novidade de uma viagem de trem, o sol a doirar o verde da paisagem, os partidos de cana beirando a linha férrea, ocorrências de matas coroando os cimos das elevações, o rumorejar de riachos nos fundos dos vales, aqui e ali a presença de banguês com suas casas-grandes, suas "moitas", seus bueiros fumegantes, seus aromas de mel cozinhando.

A primitiva vila semi-rural acolheu-o e cativou-o com o pitoresco do arruado e com a hospitalidade de sua gente. A simplicidade do casario em redor da igreja, o pátio relvado com peças de roupa a "quarar", a brisa cheirando a mato, os dedos de prosa com os que iam postar ou buscar correspondência, o almoço oferecido pelo Agente Postal, depois de cumprida a inspeção. E, à tardinha, o regresso, enquanto as sombras cresciam, a aragem refrescava ainda mais, a quietude envolvia todo o cenário, e o futuro autor de SENHORA DE ENGENHO trazia na lembrança para ali localizar o engenho Águas Claras do Coronel Cazuza.
Em 1919, após haver publicado AO CLARÃO DOS OBUZES, crônicas de exaltação à França invadida pelos alemães, durante a Primeira Guerra Mundial, e ROSAS E ESPINHOS, coletânea de contos com temas regionais, onde se incluía o CLARINHA DAS RENDAS, tão do agrado de Olavo Bilac, o escritor Mário Sette, pretendeu se firmar literariamente na elaboração de um romance. O ensejo e a motivação apresentaram-se-lhe em decorrência da visita de nossa família, em um fim de semana, ao engenho Floresta, em terras do atual Município de Moreno, pertencente a Elise de Souza Leão, casado com uma prima de minha mãe.Viajamos no trem da tarde até a Vila Natan, embrião da atual cidade de Moreno e, dali, de automóvel, já embrenhados na escuridão da noite, a vencer curvas e a subir e descer ladeiras, em estrada de barro, até a escada de pedra de acesso ao terraço em frente à casa-grande. A emoção de deslumbramento experimentada por meu pai, na manhã seguinte, ante o cenário que compunha e envolvia a sede do engenho Floresta, ele a transferiu nas páginas do romance para a Hortência, a jovem trazida por Nestor do Rio, em sua chegada ao engenho Águas Claras, igualmente numa noite de escuro.
O fim de semana ensolarado que, naquela ocasião, ali, vivemos foi o bastante para que o espírito, observador e ávido de curiosidade do escritor Mário Sette, familiariza-se com a paisagem, os costumes, as práticas agrárias, o relacionamento social da comunidade do complexo de meio rural, que estava a descobrir. E de volta para casa já trazia a semente do SENHORA DE ENGENHO, agora a germinar.
Ao longo do ano de 1920, em paralelo às suas atividades na Repartição dos Correios, cuidou do trabalho de planejar, estruturar, delinear o enredo, criar os personagens, imaginar os ambientes e escrever os capítulos do livro. Meu pai tinha por hábito rascunhar as suas produções literárias em cadernos escolares e mais tarde datilografá-las, batucando com um dedo só, naquela época, em sua antiga Corona portátil.
Sempre fui desde menino um admirador, um fã, um - como se diria hoje - "macaco de auditório" e, confesso mesmo, um imitador de meu inesquecível pai, principalmente, em suas atividades literárias. Aos dez anos já ousava colaborar na revista infantil carioca O Tico-tico e tinha a presunção de querer escrever um romance que se intitularia vida rústica. Por isso, envaidecido com os meus pendores, ele me concedia o privilégio de ler em primeira mão tudo quanto escrevia.
O SENHORA DE ENGENHO, por exemplo, eu o li, folha por folha, datilografada, à proporção que elas iam saindo “quentinhas” da máquina. Lembro-me da preocupação, a quase angústia do autor em alcançar a melhor forma, a redação a seu contento, modificando aqui, alterando ali, passando a limpo trechos e até capítulos inteiros.
A princípio, o romance receberia o precioso e pernóstico título de Claustro Verde. Já quase pronto, o escritor vacilou como alternativa de opção entre MARIA DA BETÂNIA ou SENHORA DE ENGENHO, prevalecendo, felizmente, como expressão de regionalismo, o segundo.
Como já havia acontecido com o ROSAS E ESPINHOS, as duas primeiras edições do SENHORA DE ENGENHO foram custeadas por meu pai com um aval de um parente, Horácio Moreira, a quem foi dedicado o livro e impresso na gráfica da Imprensa Industrial, dos irmãos Nery da Fonseca.
Com uma bonita capa exibindo um sugestivo desenho do arquiteto Heitor Maia Filho, sobrinho de meus pais, o romance apareceu, à venda, na primeira quinzena de fevereiro de 1921 e logrou um êxito de best-seller. O próprio autor, em seus apontamentos autobiográficos, registra que os mil exemplares dessa primeira edição viram-se, totalmente, vendidos nas livrarias recifenses em quinze dias. Outros mil exemplares, da segunda edição, começaram a ser impressos em 9 de março, e, em novembro, ainda do mesmo ano, Monteiro Lobato publica em São Paulo a terceira edição, com uma tiragem de cinco mil exemplares, com distribuição em todo o país.
Vários fatores contribuíram para esse sucesso do SENHORA DE ENGENHO, tornando o escritor Mário Sette, conhecido e consagrado nas letras nacionais.
Vale salientar o valor revolucionário do livro considerado pelo crítico Oscar Mendes, pioneiro no ciclo dos romances a focalizar temas, paisagens e costumes regionais, antecipando-se ao “Quinze” de Raquel de Queiroz, ao “Bagaceira” de José Américo e, consequentemente, às obras de José Lins do Rego ou às de Graciliano Ramos. Por outro lado, a imprensa recifense então representada pelos matutinos Diário de Pernambuco, Jornal do Comércio e o vespertino Jornal Pequeno, franqueou suas colunas e páginas literárias domingueiras a notícias, notas, editoriais, estudos críticos, unanimemente, elogiosos ao trabalho do escritor pernambucano, no que foi acompanhado pelos jornais e revistas do Rio, São Paulo e Buenos Ayres.
Sem a concorrência das novelas radiofonizadas e televisionadas, acredito que o público ledor do Recife de sessenta e cinco anos atrás era, proporcionalmente, bem mais numeroso e interessado que o atual. A verdade é que o SENHORA DE ENGENHO mereceu a leitura, o comentário e o aplauso, em todos os segmentos, da sociedade, chegando a despertar competição entre os que simpatizavam, penalizados com a frustração amorosa de Maria da Betânia e os que se entusiasmavam com a crescente adaptação e identificação da carioca Hortência com o meio rural canavieiro.
Ainda houve uma quarta, uma quinta e uma sexta edições do SENHORA DE ENGENHO. A quarta apareceu em Portugal, sob a responsabilidade da Editora Lelo, da Livraria Chardron, do Porto, numa coleção onde foram publicados, também, A FILHA DE DONA SINHÁ; SOMBRAS DE BARAÚNAS e JOÃO IGNÁCIO. Na quinta edição, meu pai cometeu uma traquinada de reescrever o romance, procurando atualizá-lo quanto à evolução de seu estilo e de sua linguagem, no que foi objetado pelo crítico Álvaro Lyns, sob o argumento de que as obras literárias devem refletir, rigorosamente, a época em foram, originalmente, escritas. E a sexta edição, pela Companhia de Melhoramentos, a que ele chama de “nova e definitiva edição", aceitando o alvitre do articulista.
O próprio Mário Sette adaptou o SENHORA DE ENGENHO à forma de uma peça de teatro, sendo levada à cena no Santa Isabel, por um grupo chamado, hoje, Funcionários do Banco do Brasil. Nessa oportunidade o grande Capiba compôs a música e letra da belíssima valsa "Maria Betânia", decalcada no enredo do romance e cantada pela primeira vez em público, num dos intervalos do espetáculo.
Esta sétima edição tem por finalidade comemorar o centenário de Mário Sette. Aliás, não apenas o dele e também o de minha mãe, a sua estremecida Maria Laura – Maria Laura Maia Sette - ambos nascidos a 19 de abril de 1886. Um romance que praticamente começou no berço, cresceu entre os folguedos infantis, concretizou-se quando jovens diante do altar, e durou num clima de perene felicidade e compreensão mútua, até que a morte o levou a 25 de março de 1950.
Ao acertar com o historiador Flávio Guerra, Diretor da Editora Asa, a publicação deste livro, acordamos que ele deveria reproduzir ipsis litteris o texto que constituiu a coqueluche dos recifenses, ou, melhor dizendo, dos pernambucanos nos idos do ano de 1921. Um outro, interesse que desperta esse ressurgimento do SENHORA DE ENGENHO está no reflexo da maneira precisa e nítida da vida familiar nas casas-grandes dos engenhos, integrada e relacionada com o meio rural canavieiro.
Sem qualquer preocupação ideológica e sem pretender explorar problemas ou realizar pesquisas sociológicas, o escritor Mário Sette preferiu ficar na superficialidade, mobilizando seu poder de observação como se estivesse usando uma máquina fotográfica na elaboração de uma reportagem.
Em 1924, empregando o mesmo método de cinematografar, literariamente, o cotidiano das comunidades humanas dos banguês, meu pai publicou pela Editora Lelo, de Portugal, o romance O VIGIA DA CASA GRANDE prêmio da Academia Brasileira de Letras, que representa um complemento do SENHORA DE ENGENHO, por focalizar não mais os moradores da casa-grande e, sim, usando como personagens os vigilantes, os carreiros, os estribeiros, os obreiros industriais, os plantadores e cortadores de cana. São, em suma, dois livros, que valem, como autênticos documentários, a oferecer subsídios a sociólogos, antropólogos e historiadores para o estudo da vida dos engenhos pernambucanos em pleno regime paternalista, marcando um período de transição para a industrialização das usinas de açúcar.

Fonte: Prefácio por Hilton Sette da reedição in SETTE, Mário. Senhora de Engenho. Coleção Nordeste em Evidência. Recife: Editora Asa Pernambuco, 1986.

 

Senhora de Engenho ou,
O engenho visto da Casa Grande

Lucilo Varejão Filho

O romance se abre num luminoso quadro de tranquila e feliz vida pastoril: e Tracunhaém, cidadezinha interiorana, da zona da mata pernambucana, que se prepara para as comemorações de um final de mês mariano.

O leitor nordestino que saiba degustar o seu texto encontrará, logo de saída, sua delícia, neste primeiro capítulo do romance em que verá saltar da boca dos personagens toda uma série de saborosas expressões bem típicas do falar regional, o que, desde logo, o leva a admirar no romancista, o talento de joeirador de modismos da linguagem familiar nordestina.
Os temas da conversa são os cotidianos das pequenas cidades de um interior ainda sem rádio ou televisão, pois é preciso lembrar que estamos nos anos 20, do século XX: as indagações sobre a saúde dos que se reencontram e sobre o destino dos parentes e amigos comuns dos quais na se tem notícia recente é que fazem a festa.
Surgem, então, as informações em tom carinhoso. De Maria Betânia que fora, criança, para Garanhuns e estava agora de volta:

Está uma moça. Bonita, crescida, prendada! Estudou com as “irmãs” (entenda-se: com freiras do convento). Sabe até francês...

Ao despedir-se, a personagem D. Ignacinha diz:

Até mais tarde minha gente. Vou ver a comadre Felícia que “está de menino novo”.

E será, a partir daí, todo um longo desfiar de coisas típicas bem características do velho Nordeste açucareiro e patriarcal. De caráter religioso, umas: comemorações do mês mariano, procissões, festas ao ar livre nos pátios da igreja; do mundo leigo, outras: Botada de engenho, casamentos e aniversários comemorados nas Casas Grandes, permitindo que o autor componha um amplo painel da vida interiorana no Pernambuco de então.
As festas juninas, por exemplo, permitem a Mário Sette apresentar a generalizada fartura dos comes e bebes, a ingênua diversão das moças casadoiras que, ansiosas por descobrir o que lhes reserva o futuro no plano sentimental, se entregam a tirar a sorte escolhendo os papeluchos numerados espalhados sobre a mesa, aquele que corresponde a seu destino que deve ser "descoberto" através das linhas numeradas de “um livro de sortes”, e, das quais, deliciado o autor transcreve três ou quatro. São saudosas diversões, ingênuas e felizes de um tempo morto.
O escritor Hilton Sette, filho do romancista, conta ter sido o acaso de uma temporada passada em Gravatá, em busca de descanso, que levou Mário Sette a sensibilizar-se com a vida matuta.
Por isso espanta-nos o seguro conhecimento demonstrado pelo cronista ao descrever o engenho onde se passará a ação do seu romance, numa exuberante apresentação de árvores de corte ou frutíferas destas especificando as variedades utilizadas no fabrico de doces e compotas, além de indicar as plantas medicinais, tudo permeando a apresentação das vastas plantações de cana de açúcar, a que se devem acrescentar ainda os dados relativos aos tipos de bois usados na atividade diário dos engenhos, suas serventias, acidentes a que estão sujeitos a sua faina, além das referências a outros tipos de animais de caça. Tudo é dito com propriedade e leveza, sem a qualquer página do romance tom de relatório como também sem cair no ufanismo, embora sintamos que o autor busca nos passar entusiasmada visão das riquezas naturais de sua terra.
No interesse enciclopédico por todas essas coisas, chega a fornecer acerca do manejo dos bois de tração, estabelecimento distinção entre os animais que devem ser utilizados na tração dianteira ou na lateral das viaturas, tudo dependendo da força no pescoço ou da musculatura das pernas.
Sobre este rico pano de fundo lança o escritor a trama de seu romance: Nestor, filho do Senhor do Engenho Águas Claras deixa, aos doze anos, as terras da propriedade onde passara toda a meninice bem-comportada e feliz para estudar em Recife. A vida de internato consegue transformá-lo num jovem desabusado e afastado da religião. Vindo de férias a sua cidadezinha, é quase assassinado em incidente que insensatamente provoca durante uma procissão. Obtém, então a permissão paterna para ir terminar seus estudos no Rio de Janeiro. E no Rio ele se forma, casa e começa a trabalhar num Ministério. Após cerca de vinte anos na então capital do país, resolve trazer a esposa para conhecer seu Estado natal. O reencontro com a terra da infância e a verificação de que seus pais não têm mais condições físicas para “tocar” a propriedade, levam Nestor a encarar a possibilidade de voltar a viver em terras do Engenho. A esposa carioca que acompanhara Nestor ante a promessa de rápido regresso ao Rio de Janeiro sofrerá uma lenta, mas contínua modificação em seu espírito: a sua sensibilização às belezas da nova terra, a descoberta dos méritos dos seus moradores – e não só os da Casa Grande – será o caminho por onde, sua alma, penetrará o gosto pela vida em Águas Claras. O nascimento de um filho em meio ao carinho e à solicitude de todos, inclusive dos moradores da propriedade, completará a adesão do seu espírito à idéia de permanência, para o resto de seus dias, nas terras do Engenho.
À margem da história de Nestor e sua esposa carioca com seus desencontros e reencontros, desenvolveu o autor o drama de uma gentil personagem feminina, encantadora e meiga figura de mulher que, já na sua infância, tudo indicava viria a ser a esposa ideal de Nestor. Sobrinha do Vigário de Tracunhaém, afilhada da Senhora do Engenho Águas Claras e companheira dos folguedos infantis de Nestor, a todos os leitores do romance comoveu o destino ingrato de Maria da Betânia, para sempre marginalizada pelo casamento de Nestor com uma carioca.
Esse drama do personagem, por força do sucesso de livraria do romance, comoveu meio mundo. Uma espécie de simpatia nacional envolveu a figura e terminou por inspirar uma das mais belas composições do nosso cancioneiro popular, ao levar o músico pernambucano Lourenço Barbosa, o Capiba, a compor o seu Maria Betânia nacionalmente divulgado na voz de Nelson Gonçalves. É o cântico da paixão não correspondida.
Maria Betânia é, segundo o Padre Jaime Diniz em seu livro O piano e seus compositores em Pernambuco, “uma jóia de 1944.”
Mas aqui podemos também fazer referência a uma valsa Senhora de Engenho que, com letra do próprio Mário Sette, fora composta, alguns anos antes, pelo hoje praticamente desconhecido pianista José Sicupira. Embora sem alcançar a força lírica da composição de Capiba, a valsa exalta a descoberta da terra e de seus valores pela jovem esposa carioca de Nestor.
As duas composições no mínimo revelam uma certa aproximação de Mário Sette com os compositores de seu tempo e seu gosto pela música popular e de salão.

Fonte: Apresentação de Lucilo Varejão Filho in SETTE, Mário. Senhora de Engenho Coleção Romances Rurais – os velhos mestres do romance pernambucano. Vol.5. Recife: Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, 2005.

Considerações publicadas na época do lançamento de SENHORA DE ENGENHO

“SENHORA DE ENGENHO não é um livro para despertar emoções violentas. Não há ali adultérios, nem crimes passionais. Talvez, por isso, não agrade a todo mundo. É a obra de um escritor que tem o culto da família, da religião e da Pátria, e procura orientar a sociedade, pra esses três grandes objetivos de que dependerá o futuro da humanidade.
Como livro de idéias é bom. Como romance, o enredo é bem concatenado, a dialogação é discreta, o traço da paisagem vivo, de um delicado colorido. A língua não é arrevesada, nem o vocabulário”.

Aníbal Fernandes (Diário de Pernambuco)

“Li-o de um fôlego; acabo de voltar-lhe a última página saudoso de deixá-lo, empolgado que fui pela narração simples, num estilo claro, límpido, fácil, sem rebuscamentos e arabescos preciosos, de uma história sadia, bem nossa, bem pernambucana, em que pela flagrante descrição, pela imagem fotográfica, ressalta o ingênuo caráter, com todos os seus defeitos e qualidades, da nossa população agrícola”.

Farias Neves Sobrinho

“SENHORA DE ENGENHO de Mário Sette é um lindo poema sentimental, vasado naquela leveza de idéias e de conceitos que é o segredo estrutural de quase todos os trabalhos do autor de CABELOS BRANCOS”.

Lucilo Varejão

“SENHORA DE ENGENHO é todo um hino à vida do campo; o clima, os usos e os costumes, o amanho da terra, a psicologia da gente simples e sincera que o habita tudo enfim, para um romance a que está fadado um êxito dos mais compensadores”.

Diário de Pernambuco (Recife)

“... Por isto mesmo é que o seu livro é forte, fugindo à rigidez das escolas, desprezando o preconceito de um naturalismo obsceno para afirmar, antes de tudo, um temperamento. Neste traço de rebeldia, é que está o verdadeiro escritor.
“Esta sua energia o tornará vitorioso, estou certo, tão certo com estou igualmente de que ele pode vir a ser, não digo ainda o que seja, um dos grandes romancistas do Brasil”

Barbosa Lima Sobrinho

“.numa suave apoteose, sem luminárias, mas bastante significativa, nas suas meias tintas, para avisar aos desprevenidos de que no “home” é que se cobram alentos e energias para a dispersão quotidiana na luta pela vida”
“Este será, talvez, o maior elogio ao Sr. Mário Sette, escritor a quem as letras pernambucanas já devem hoje um notável contingente de boa e sã literatura, com a castidade do ideal na concepção moralista dos seus trabalhos”.

Armando Gaioso

“SENHORA DE ENGENHO vem colocá-lo sob todos os pontos de vista, entre os melhores romancistas brasileiros”.

Carlos Garrido (Jornal de Alagoas)

“Você é um escritor que se lê para ficar melhor, graças a sua impreparação para o mal. O seu feitio literário tem algo da suavidade dos Margueritte, apesar das afinidades com Bordeaux, de quem é amigo e possui obras com dedicatórias penhoradouras”.

Artur Muniz

“Gostei muito deste livro que me deixou sentindo (e por isto perdoando a d. Inacinha uma frase lírica) um cheiro de mel que adoça a alma da gente”.

Paulino de Andrade

“É o melhor dos romances atuais. Há um acentuado sabor de regionalismo em suas páginas, copiando o autor, em seus mínimos detalhes, a natureza pujante e laboriosa dos nossos arredores”.

Esdras Farias

SENHORA DE ENGENHO é uma história vivida de nossa gente, cheia de hábitos e lembranças suas, na narração de cenas e brinquedos regionais, costumes prosaicos, almas simples de roceiros e tudo que é a vida nos centros de onde ainda não despertou a tradição indígena, varrida ao golpe dissolvente e vulgar do cosmopolitismo.

Jornal Pequeno

“O amanhecer em Águas Claras, o modo de pintar a botada do engenho e outras descrições merecem elogios que lhe não regateamos”.

A Noite (Recife)

Li a Senhora de Engenho
Li e gostei. E aqui venho
Dizer
Que um crime comete
Qualquer leitora ou leitor
Que não ler
O Mário Sette
Neste livro encantador.

Vital Sobrinho (Felix) Jornal Pequeno

“Possuidor de um estilo que agrada, talvez pela sua leveza e encantadora naturalidade, o autor de SENHORA DE ENGENHO vem juntar aos seus triunfos merecidos mais outro com o aparecimento do seu novo romance”

José Firmo

“SENHORA DE ENGENHO, tratando dos nossos costumes rurais, dizendo com tão louvável exatidão, da nossa natureza e da nossa gente, louvando, cantando, celebrando, a vida honesta laboriosa do interior, é bom um livro pernambucano, nosso, livro puro, livro bom”.

Austro Costa

“Nunca vi em romance uma Maria Bethânia”

Nelson Firmo

O Sr. Monteiro Lobato reportando-se ao SENHORA DE ENGENHO, traça-lhe ponderadas observações, chegando a dizer que o Sr. Mário Sette não é somente um intelectual, mas um emotivo com personalidade própria.
Não é, pois, surpresa se, porventura, o Sr. Mário Sette não desperta em Pernambuco a sensação que o seu talento merece. Basta-lhe, e já é o bastante, a notoriedade que a inteligência do sul do país tanto se compraz em cada vez mais robustecer, revelando-o a quantos se preocupam com as coisas do espírito no Brasil.

A União (Paraíba)

“Atualmente existem, no Recife, dois jovens escritores que serão dois padrões de glória para a história literária do norte: Mário Sette e Lucilo Varejão”.

Théo Filho – A Folha (Rio)

“Mário Sette, conteur, novelista, romancista, é sempre o mesmo prosador claro, sadio, encantador. Ele é visceralmente escritor. Sabe dizer com ternura a beleza da vida simples, rústica, bucólica, vivida nos engenhos e fazendas, como se vê em SENHORA DE ENGENHO; sabe descrever instantes de dor, de heroísmo, de glória, como o sentimos à leitura de AO CLARÃO DOS OBUSES, enfim sabe agradar e emocionar, duas coisas cujo segredo só os verdadeiros artistas conhecem”.

A Pátria (Rio)

“SENHORA DE ENGENHO é um romance regional, nacionalista mesmo. Desses livros no gênero após guerra, ainda, não li coisa melhor”.

Padre Assis Memória – Gil Blas – Rio

Os seus tipos são bem estudados e movimentam-se com a maior naturalidade.

João Pinto da Silva – Porto Alegre

Ninguém, que eu saiba, disse melhor dos nossos recantos e das nossas matas nortistas.

Romeu de Avellar (Belo Horizonte)

“(...) Não raro encontrei um inédito sabor literário e um mundo de impressões novas que não achara em outras obras moldadas no mesmo tema. O Sr. se revela, no SENHORA DE ENGENHO um exímio pintor de caracteres”.

Raul Machado – Pernambuco

“Usted que acaba de producir uma hermosa novella SENHORA DE ENGENHO, tiene inegables virtudes de novellista que lo senalam para um triumpho definitivo y próximo”.

Benjamin de Garay – Buenos Ayres.

“(...) É um romance que tem andado, aqui, de mão em mão e não sai de nenhuma delas sem os maiores gabos”.

Lima Barreto – A Careta

“Mário Sette compreendeu isso e realizou, em SENHORA DE ENGENHO, um bom livro. Basta dizer que há páginas de um tão forte poder descritivo, que são verdadeiros espelhos mágicos aos exilados, aos filhos desse nordeste, aos ‘transplantados’ do ambiente das fazendas cheias de céus tranquilos, rios claros, árvores consoladoras, campinas verdes e capelas brancas, e amores de criaturas como essa Maria Bethânia – lírio silvestre de pureza e resignação, toda amor, tão grande que vai até o sacrifício de calar esse amor por toda a vida (...)”

Ademar Tavares (Rio)

“SENHORA DE ENGENHO tem como teatro uma pequenina aldeia pernambucana - Tracunhaém – é, portanto, um trabalho genuinamente nacional o que lhe aumenta o valor”.

O País – Rio

“Este objetivo (o do amor à terra natal) ressalta de todos os capítulos do livro de Mário Sette, desde o primeiro em que abre aos nossos olhos embevecidos as portas vetustas do solar de águas Claras, a cujos velhos donos a gente tem vontade de beijar as mãos, e de enxugar as lágrimas, naquele triste dia em que os deixa o filho único, rumando para a Guanabara famosa as suas esperanças de luz de gozos, de liberdade, de fama”.

D. Edwirges de Sá Pereira (Recife)

“SENHORA DE ENGENHO é uma das mais belas obras que tenho lido nestes últimos tempos”

Luiz Guimarães Filho (Montevideo)

Fonte: Cinematographo (obra eficiente de propaganda do norte intelectual) SETTE, Mário. Outros Olhos... Recife: Edição da Casa America Evaristo Maia, Praça Independência n 37, 1ª edição, 1921.