o romance apareceu, à venda, na primeira quinzena de fevereiro de 1921 e logrou um êxito de best-seller.
"Foi exatamente na época em que vivíamos assim, na nossa casinha modesta do Arraial, e com o nosso primeiro filho, que eu realizei a viagem à Tracunhaém da qual nasceria este romance"
Tracunhaém na época em que inspirou o romance.
A emoção de deslumbramento experimentada por meu pai, na manhã seguinte, ante o cenário que compunha e envolvia a sede do engenho Floresta, ele a transferiu nas páginas do romance para a Hortência.
Ainda houve uma quarta, uma quinta e uma sexta edições do SENHORA DE ENGENHO. A quarta apareceu em Portugal, sob a responsabilidade da Editora Lelo, da Livraria Chardron, do Porto, numa coleção onde foram publicados, também, A FILHA DE DONA SINHÁ; SOMBRAS DE BARAÚNAS e JOÃO IGNÁCIO.
Detalhe de um típico engenho de cana de açucar que, entre tantos temas rurais, inspirou o autor a escrever o romance.
Em 1924, empregando o mesmo método de cinematografar, literariamente, o cotidiano das comunidades humanas dos banguês, meu pai publicou pela Editora Lelo, de Portugal, o romance O VIGIA DA CASA GRANDE prêmio da Academia Brasileira de Letras, que representa um complemento do SENHORA DE ENGENHO.
Ilustração de antiga moenda de cana de açúcar
Os temas da conversa são os cotidianos das pequenas cidades de um interior ainda sem rádio ou televisão, pois é preciso lembrar que estamos nos anos 20, do século XX.
Uma espécie de simpatia nacional envolveu a figura e terminou por inspirar uma das mais belas composições do nosso cancioneiro popular, ao levar o músico pernambucano Lourenço Barbosa, o Capiba, a compor o seu Maria Betânia nacionalmente divulgado na voz de Nelson Gonçalves.
O próprio Mário Sette adaptou o SENHORA DE ENGENHO à forma de uma peça de teatro.
Cena da peça SENHORA DE ENGENHO, levada à cena pela primeira vez em 1943, no Teatro de Santa Isabel.
A semente do SENHORA DE ENGENHO viu-se cultivada na inspirarão do escritor Mário Sette quando este, lá por volta do ano de 1910, então funcionário da antiga Administração dos Correios de Pernambuco, recebeu a incumbência de inspecionar, em comissão, a Agencia Postal de Tracunhaém.
Meu pai evoca em MEMÓRIAS ÍNTIMAS e em APONTAMENTOS AUTOBIOGRÁFICOS (inéditos) as suas reações de agrado e encantamento experimentadas nessa curta e imprevista excursão à Zona Canavieira. Numa certa manhã, a novidade de uma viagem de trem, o sol a doirar o verde da paisagem, os partidos de cana beirando a linha férrea, ocorrências de matas coroando os cimos das elevações, o rumorejar de riachos nos fundos dos vales, aqui e ali a presença de banguês com suas casas-grandes, suas "moitas", seus bueiros fumegantes, seus aromas de mel cozinhando.
A primitiva vila semi-rural acolheu-o e cativou-o com o pitoresco do arruado e
com a hospitalidade de sua gente. A simplicidade do casario em redor da igreja,
o pátio relvado com peças de roupa a "quarar", a brisa
cheirando a mato, os dedos de prosa com os que iam postar ou buscar correspondência,
o almoço oferecido pelo Agente Postal, depois de cumprida a inspeção.
E, à tardinha, o regresso, enquanto as sombras cresciam, a aragem refrescava
ainda mais, a quietude envolvia todo o cenário, e o futuro autor de SENHORA
DE ENGENHO trazia na lembrança para ali localizar o engenho Águas
Claras do Coronel Cazuza.
Em 1919, após haver publicado AO CLARÃO DOS OBUZES, crônicas
de exaltação à França invadida pelos alemães,
durante a Primeira Guerra Mundial, e ROSAS E ESPINHOS, coletânea de contos
com temas regionais, onde se incluía o CLARINHA DAS RENDAS, tão
do agrado de Olavo Bilac, o escritor Mário Sette, pretendeu se firmar literariamente
na elaboração de um romance. O ensejo e a motivação
apresentaram-se-lhe em decorrência da visita de nossa família, em
um fim de semana, ao engenho Floresta, em terras do atual Município de
Moreno, pertencente a Elise de Souza Leão, casado com uma prima de minha
mãe.Viajamos no trem da tarde até a Vila Natan, embrião da
atual cidade de Moreno e, dali, de automóvel, já embrenhados na
escuridão da noite, a vencer curvas e a subir e descer ladeiras, em estrada
de barro, até a escada de pedra de acesso ao terraço em frente à
casa-grande. A emoção de deslumbramento experimentada por meu pai,
na manhã seguinte, ante o cenário que compunha e envolvia a sede
do engenho Floresta, ele a transferiu nas páginas do romance para a Hortência,
a jovem trazida por Nestor do Rio, em sua chegada ao engenho Águas Claras,
igualmente numa noite de escuro.
O fim de semana ensolarado que, naquela ocasião, ali, vivemos foi o bastante
para que o espírito, observador e ávido de curiosidade do escritor
Mário Sette, familiariza-se com a paisagem, os costumes, as práticas
agrárias, o relacionamento social da comunidade do complexo de meio rural,
que estava a descobrir. E de volta para casa já trazia a semente do SENHORA
DE ENGENHO, agora a germinar.
Ao longo do ano de 1920, em paralelo às suas atividades na Repartição
dos Correios, cuidou do trabalho de planejar, estruturar, delinear o enredo,
criar os personagens, imaginar os ambientes e escrever os capítulos
do livro. Meu pai tinha por hábito rascunhar as suas produções
literárias em cadernos escolares e mais tarde datilografá-las,
batucando com um dedo só, naquela época, em sua antiga Corona
portátil.
Sempre fui desde menino um admirador, um fã, um - como se diria hoje -
"macaco de auditório" e, confesso mesmo, um imitador de meu inesquecível
pai, principalmente, em suas atividades literárias. Aos dez anos já
ousava colaborar na revista infantil carioca O Tico-tico e tinha a presunção
de querer escrever um romance que se intitularia vida rústica. Por isso,
envaidecido com os meus pendores, ele me concedia o privilégio de ler em
primeira mão tudo quanto escrevia.
O SENHORA DE ENGENHO, por exemplo, eu o li, folha por folha, datilografada, à
proporção que elas iam saindo “quentinhas” da máquina.
Lembro-me da preocupação, a quase angústia do autor em alcançar
a melhor forma, a redação a seu contento, modificando aqui, alterando
ali, passando a limpo trechos e até capítulos inteiros.
A princípio, o romance receberia o precioso e pernóstico título
de Claustro Verde. Já quase pronto, o escritor vacilou como alternativa
de opção entre MARIA DA BETÂNIA ou SENHORA DE ENGENHO, prevalecendo,
felizmente, como expressão de regionalismo, o segundo.
Como já havia acontecido com o ROSAS E ESPINHOS, as duas primeiras edições
do SENHORA DE ENGENHO foram custeadas por meu pai com um aval de um parente, Horácio
Moreira, a quem foi dedicado o livro e impresso na gráfica da Imprensa
Industrial, dos irmãos Nery da Fonseca.
Com uma bonita capa exibindo um sugestivo desenho do arquiteto Heitor
Maia Filho, sobrinho de meus pais, o romance apareceu, à venda,
na primeira quinzena de fevereiro de 1921 e logrou um êxito de best-seller.
O próprio autor, em seus apontamentos autobiográficos,
registra que os mil exemplares dessa primeira edição viram-se,
totalmente, vendidos nas livrarias recifenses em quinze dias. Outros mil
exemplares, da segunda edição, começaram a ser impressos
em 9 de março, e, em novembro, ainda do mesmo ano, Monteiro Lobato
publica em São Paulo a terceira edição, com uma tiragem
de cinco mil exemplares, com distribuição em todo o país.
Vários fatores contribuíram para esse sucesso do SENHORA DE ENGENHO,
tornando o escritor Mário Sette, conhecido e consagrado nas letras nacionais.
Vale salientar o valor revolucionário do livro considerado pelo
crítico Oscar Mendes, pioneiro no ciclo dos romances a focalizar
temas, paisagens e costumes regionais, antecipando-se ao “Quinze”
de Raquel de Queiroz, ao “Bagaceira” de José Américo
e, consequentemente, às obras de José Lins do Rego ou às
de Graciliano Ramos. Por outro lado, a imprensa recifense então
representada pelos matutinos Diário de Pernambuco, Jornal
do Comércio e o vespertino Jornal Pequeno, franqueou
suas colunas e páginas literárias domingueiras a notícias,
notas, editoriais, estudos críticos, unanimemente, elogiosos ao
trabalho do escritor pernambucano, no que foi acompanhado pelos jornais
e revistas do Rio, São Paulo e Buenos Ayres.
Sem a concorrência das novelas radiofonizadas e televisionadas, acredito
que o público ledor do Recife de sessenta e cinco anos atrás era,
proporcionalmente, bem mais numeroso e interessado que o atual. A verdade é
que o SENHORA DE ENGENHO mereceu a leitura, o comentário e o aplauso, em
todos os segmentos, da sociedade, chegando a despertar competição
entre os que simpatizavam, penalizados com a frustração amorosa
de Maria da Betânia e os que se entusiasmavam com a crescente adaptação
e identificação da carioca Hortência com o meio rural canavieiro.
Ainda houve uma quarta, uma quinta e uma sexta edições do SENHORA
DE ENGENHO. A quarta apareceu em Portugal, sob a responsabilidade da Editora Lelo,
da Livraria Chardron, do Porto, numa coleção onde foram publicados,
também, A FILHA DE DONA SINHÁ; SOMBRAS DE BARAÚNAS e JOÃO
IGNÁCIO. Na quinta edição, meu pai cometeu uma traquinada
de reescrever o romance, procurando atualizá-lo quanto à evolução
de seu estilo e de sua linguagem, no que foi objetado pelo crítico Álvaro
Lyns, sob o argumento de que as obras literárias devem refletir, rigorosamente,
a época em foram, originalmente, escritas. E a sexta edição,
pela Companhia de Melhoramentos, a que ele chama de “nova e definitiva edição",
aceitando o alvitre do articulista.
O próprio Mário Sette adaptou o SENHORA DE ENGENHO à forma de uma
peça de teatro, sendo levada à cena no Santa Isabel, por um grupo
chamado, hoje, Funcionários do Banco do Brasil. Nessa oportunidade o grande
Capiba compôs a música e letra da belíssima valsa "Maria
Betânia", decalcada no enredo do romance e cantada pela primeira vez
em público, num dos intervalos do espetáculo.
Esta sétima edição tem por finalidade comemorar o centenário
de Mário Sette. Aliás, não apenas o dele e também
o de minha mãe, a sua estremecida Maria Laura – Maria Laura Maia
Sette - ambos nascidos a 19 de abril de 1886. Um romance que praticamente começou
no berço, cresceu entre os folguedos infantis, concretizou-se quando jovens
diante do altar, e durou num clima de perene felicidade e compreensão mútua,
até que a morte o levou a 25 de março de 1950.
Ao acertar com o historiador Flávio Guerra, Diretor da Editora
Asa, a publicação deste livro, acordamos que ele deveria
reproduzir ipsis litteris o texto que constituiu a coqueluche
dos recifenses, ou, melhor dizendo, dos pernambucanos nos idos do ano
de 1921. Um outro, interesse que desperta esse ressurgimento do SENHORA
DE ENGENHO está no reflexo da maneira precisa e nítida da
vida familiar nas casas-grandes dos engenhos, integrada e relacionada
com o meio rural canavieiro.
Sem qualquer preocupação ideológica e sem pretender explorar
problemas ou realizar pesquisas sociológicas, o escritor Mário Sette
preferiu ficar na superficialidade, mobilizando seu poder de observação
como se estivesse usando uma máquina fotográfica na elaboração
de uma reportagem.
Em 1924, empregando o mesmo método de cinematografar, literariamente, o
cotidiano das comunidades humanas dos banguês, meu pai publicou pela Editora
Lelo, de Portugal, o romance O VIGIA DA CASA GRANDE prêmio da Academia Brasileira
de Letras, que representa um complemento do SENHORA DE ENGENHO, por focalizar
não mais os moradores da casa-grande e, sim, usando como personagens os
vigilantes, os carreiros, os estribeiros, os obreiros industriais, os plantadores
e cortadores de cana. São, em suma, dois livros, que valem, como autênticos
documentários, a oferecer subsídios a sociólogos, antropólogos
e historiadores para o estudo da vida dos engenhos pernambucanos em pleno regime
paternalista, marcando um período de transição para a industrialização
das usinas de açúcar.
Fonte: Prefácio por Hilton Sette da reedição in SETTE, Mário. Senhora de Engenho. Coleção Nordeste em Evidência. Recife: Editora Asa Pernambuco, 1986.
O romance se abre num luminoso quadro de tranquila e feliz vida pastoril: e Tracunhaém, cidadezinha interiorana, da zona da mata pernambucana, que se prepara para as comemorações de um final de mês mariano.
O leitor nordestino que saiba degustar o seu texto encontrará, logo de
saída, sua delícia, neste primeiro capítulo do romance
em que verá saltar da boca dos personagens toda uma série de saborosas
expressões bem típicas do falar regional, o que, desde logo, o
leva a admirar no romancista, o talento de joeirador de modismos da linguagem
familiar nordestina.
Os temas da conversa são os cotidianos das pequenas cidades de um interior
ainda sem rádio ou televisão, pois é preciso lembrar que
estamos nos anos 20, do século XX: as indagações sobre
a saúde dos que se reencontram e sobre o destino dos parentes e amigos
comuns dos quais na se tem notícia recente é que fazem a festa.
Surgem, então, as informações em tom carinhoso. De Maria
Betânia que fora, criança, para Garanhuns e estava agora de volta:
Está uma moça. Bonita, crescida, prendada! Estudou com as “irmãs” (entenda-se: com freiras do convento). Sabe até francês...
Ao despedir-se, a personagem D. Ignacinha diz:
Até mais tarde minha gente. Vou ver a comadre Felícia que “está de menino novo”.
E será, a partir daí, todo um longo desfiar de coisas típicas
bem características do velho Nordeste açucareiro e patriarcal.
De caráter religioso, umas: comemorações do mês mariano,
procissões, festas ao ar livre nos pátios da igreja; do mundo
leigo, outras: Botada de engenho, casamentos e aniversários comemorados
nas Casas Grandes, permitindo que o autor componha um amplo painel da vida interiorana
no Pernambuco de então.
As festas juninas, por exemplo, permitem a Mário Sette apresentar a generalizada
fartura dos comes e bebes, a ingênua diversão das moças
casadoiras que, ansiosas por descobrir o que lhes reserva o futuro no plano
sentimental, se entregam a tirar a sorte escolhendo os papeluchos numerados
espalhados sobre a mesa, aquele que corresponde a seu destino que deve ser "descoberto"
através das linhas numeradas de “um livro de sortes”, e,
das quais, deliciado o autor transcreve três ou quatro. São saudosas
diversões, ingênuas e felizes de um tempo morto.
O escritor Hilton Sette, filho do romancista, conta ter sido o acaso de uma
temporada passada em Gravatá, em busca de descanso, que levou Mário
Sette a sensibilizar-se com a vida matuta.
Por isso espanta-nos o seguro conhecimento demonstrado pelo cronista ao descrever
o engenho onde se passará a ação do seu romance, numa exuberante
apresentação de árvores de corte ou frutíferas destas
especificando as variedades utilizadas no fabrico de doces e compotas, além
de indicar as plantas medicinais, tudo permeando a apresentação
das vastas plantações de cana de açúcar, a que se
devem acrescentar ainda os dados relativos aos tipos de bois usados na atividade
diário dos engenhos, suas serventias, acidentes a que estão sujeitos
a sua faina, além das referências a outros tipos de animais de
caça. Tudo é dito com propriedade e leveza, sem a qualquer página
do romance tom de relatório como também sem cair no ufanismo,
embora sintamos que o autor busca nos passar entusiasmada visão das riquezas
naturais de sua terra.
No interesse enciclopédico por todas essas coisas, chega a fornecer acerca
do manejo dos bois de tração, estabelecimento distinção
entre os animais que devem ser utilizados na tração dianteira
ou na lateral das viaturas, tudo dependendo da força no pescoço
ou da musculatura das pernas.
Sobre este rico pano de fundo lança o escritor a trama de seu romance:
Nestor, filho do Senhor do Engenho Águas Claras deixa, aos doze anos,
as terras da propriedade onde passara toda a meninice bem-comportada e feliz
para estudar em Recife. A vida de internato consegue transformá-lo num
jovem desabusado e afastado da religião. Vindo de férias a sua
cidadezinha, é quase assassinado em incidente que insensatamente provoca
durante uma procissão. Obtém, então a permissão
paterna para ir terminar seus estudos no Rio de Janeiro. E no Rio ele se forma,
casa e começa a trabalhar num Ministério. Após cerca de
vinte anos na então capital do país, resolve trazer a esposa para
conhecer seu Estado natal. O reencontro com a terra da infância e a verificação
de que seus pais não têm mais condições físicas
para “tocar” a propriedade, levam Nestor a encarar a possibilidade
de voltar a viver em terras do Engenho. A esposa carioca que acompanhara Nestor
ante a promessa de rápido regresso ao Rio de Janeiro sofrerá uma
lenta, mas contínua modificação em seu espírito:
a sua sensibilização às belezas da nova terra, a descoberta
dos méritos dos seus moradores – e não só os da Casa
Grande – será o caminho por onde, sua alma, penetrará o
gosto pela vida em Águas Claras. O nascimento de um filho em meio ao
carinho e à solicitude de todos, inclusive dos moradores da propriedade,
completará a adesão do seu espírito à idéia
de permanência, para o resto de seus dias, nas terras do Engenho.
À margem da história de Nestor e sua esposa carioca com seus desencontros
e reencontros, desenvolveu o autor o drama de uma gentil personagem feminina,
encantadora e meiga figura de mulher que, já na sua infância, tudo
indicava viria a ser a esposa ideal de Nestor. Sobrinha do Vigário de
Tracunhaém, afilhada da Senhora do Engenho Águas Claras e companheira
dos folguedos infantis de Nestor, a todos os leitores do romance comoveu o destino
ingrato de Maria da Betânia, para sempre marginalizada pelo casamento
de Nestor com uma carioca.
Esse drama do personagem, por força do sucesso de livraria do romance,
comoveu meio mundo. Uma espécie de simpatia nacional envolveu a
figura e terminou por inspirar uma das mais belas composições
do nosso cancioneiro popular, ao levar o músico pernambucano Lourenço
Barbosa, o Capiba, a compor o seu Maria Betânia nacionalmente
divulgado na voz de Nelson Gonçalves. É o cântico
da paixão não correspondida.
Maria Betânia é, segundo o Padre Jaime Diniz em
seu livro O piano e seus compositores em Pernambuco, “uma
jóia de 1944.”
Mas aqui podemos também fazer referência a uma valsa Senhora de
Engenho que, com letra do próprio Mário Sette, fora composta,
alguns anos antes, pelo hoje praticamente desconhecido pianista José
Sicupira. Embora sem alcançar a força lírica da composição
de Capiba, a valsa exalta a descoberta da terra e de seus valores pela jovem
esposa carioca de Nestor.
As duas composições no mínimo revelam uma certa aproximação
de Mário Sette com os compositores de seu tempo e seu gosto pela música
popular e de salão.
Fonte: Apresentação de Lucilo Varejão Filho in SETTE, Mário. Senhora de Engenho Coleção Romances Rurais – os velhos mestres do romance pernambucano. Vol.5. Recife: Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, 2005.
“SENHORA DE ENGENHO não é um livro para despertar emoções
violentas. Não há ali adultérios, nem crimes passionais.
Talvez, por isso, não agrade a todo mundo. É a obra de um escritor
que tem o culto da família, da religião e da Pátria, e procura
orientar a sociedade, pra esses três grandes objetivos de que dependerá
o futuro da humanidade.
Como livro de idéias é bom. Como romance, o enredo é bem
concatenado, a dialogação é discreta, o traço da paisagem
vivo, de um delicado colorido. A língua não é arrevesada,
nem o vocabulário”.
“Li-o de um fôlego; acabo de voltar-lhe a última página saudoso de deixá-lo, empolgado que fui pela narração simples, num estilo claro, límpido, fácil, sem rebuscamentos e arabescos preciosos, de uma história sadia, bem nossa, bem pernambucana, em que pela flagrante descrição, pela imagem fotográfica, ressalta o ingênuo caráter, com todos os seus defeitos e qualidades, da nossa população agrícola”.
“SENHORA DE ENGENHO de Mário Sette é um lindo poema sentimental, vasado naquela leveza de idéias e de conceitos que é o segredo estrutural de quase todos os trabalhos do autor de CABELOS BRANCOS”.
“SENHORA DE ENGENHO é todo um hino à vida do campo; o clima, os usos e os costumes, o amanho da terra, a psicologia da gente simples e sincera que o habita tudo enfim, para um romance a que está fadado um êxito dos mais compensadores”.
“... Por isto mesmo é que o seu livro é forte, fugindo
à rigidez das escolas, desprezando o preconceito de um naturalismo obsceno
para afirmar, antes de tudo, um temperamento. Neste traço de rebeldia,
é que está o verdadeiro escritor.
“Esta sua energia o tornará vitorioso, estou certo, tão
certo com estou igualmente de que ele pode vir a ser, não digo ainda
o que seja, um dos grandes romancistas do Brasil”
“.numa suave apoteose, sem luminárias, mas bastante significativa,
nas suas meias tintas, para avisar aos desprevenidos de que no “home”
é que se cobram alentos e energias para a dispersão quotidiana
na luta pela vida”
“Este será, talvez, o maior elogio ao Sr. Mário Sette, escritor
a quem as letras pernambucanas já devem hoje um notável contingente
de boa e sã literatura, com a castidade do ideal na concepção
moralista dos seus trabalhos”.
“SENHORA DE ENGENHO vem colocá-lo sob todos os pontos de vista, entre os melhores romancistas brasileiros”.
“Você é um escritor que se lê para ficar melhor, graças a sua impreparação para o mal. O seu feitio literário tem algo da suavidade dos Margueritte, apesar das afinidades com Bordeaux, de quem é amigo e possui obras com dedicatórias penhoradouras”.
“Gostei muito deste livro que me deixou sentindo (e por isto perdoando a d. Inacinha uma frase lírica) um cheiro de mel que adoça a alma da gente”.
“É o melhor dos romances atuais. Há um acentuado sabor de regionalismo em suas páginas, copiando o autor, em seus mínimos detalhes, a natureza pujante e laboriosa dos nossos arredores”.
SENHORA DE ENGENHO é uma história vivida de nossa gente, cheia de hábitos e lembranças suas, na narração de cenas e brinquedos regionais, costumes prosaicos, almas simples de roceiros e tudo que é a vida nos centros de onde ainda não despertou a tradição indígena, varrida ao golpe dissolvente e vulgar do cosmopolitismo.
“O amanhecer em Águas Claras, o modo de pintar a botada do engenho e outras descrições merecem elogios que lhe não regateamos”.
Li a Senhora de Engenho
Li e gostei. E aqui venho
Dizer
Que um crime comete
Qualquer leitora ou leitor
Que não ler
O Mário Sette
Neste livro encantador.
“Possuidor de um estilo que agrada, talvez pela sua leveza e encantadora naturalidade, o autor de SENHORA DE ENGENHO vem juntar aos seus triunfos merecidos mais outro com o aparecimento do seu novo romance”
“SENHORA DE ENGENHO, tratando dos nossos costumes rurais, dizendo com tão louvável exatidão, da nossa natureza e da nossa gente, louvando, cantando, celebrando, a vida honesta laboriosa do interior, é bom um livro pernambucano, nosso, livro puro, livro bom”.
“Nunca vi em romance uma Maria Bethânia”
O Sr. Monteiro Lobato reportando-se ao SENHORA DE ENGENHO, traça-lhe
ponderadas observações, chegando a dizer que o Sr. Mário
Sette não é somente um intelectual, mas um emotivo com personalidade
própria.
Não é, pois, surpresa se, porventura, o Sr. Mário Sette
não desperta em Pernambuco a sensação que o seu talento
merece. Basta-lhe, e já é o bastante, a notoriedade que a inteligência
do sul do país tanto se compraz em cada vez mais robustecer, revelando-o
a quantos se preocupam com as coisas do espírito no Brasil.
“Atualmente existem, no Recife, dois jovens escritores que serão dois padrões de glória para a história literária do norte: Mário Sette e Lucilo Varejão”.
“Mário Sette, conteur, novelista, romancista, é sempre o mesmo prosador claro, sadio, encantador. Ele é visceralmente escritor. Sabe dizer com ternura a beleza da vida simples, rústica, bucólica, vivida nos engenhos e fazendas, como se vê em SENHORA DE ENGENHO; sabe descrever instantes de dor, de heroísmo, de glória, como o sentimos à leitura de AO CLARÃO DOS OBUSES, enfim sabe agradar e emocionar, duas coisas cujo segredo só os verdadeiros artistas conhecem”.
“SENHORA DE ENGENHO é um romance regional, nacionalista mesmo. Desses livros no gênero após guerra, ainda, não li coisa melhor”.
Os seus tipos são bem estudados e movimentam-se com a maior naturalidade.
Ninguém, que eu saiba, disse melhor dos nossos recantos e das nossas matas nortistas.
“(...) Não raro encontrei um inédito sabor literário e um mundo de impressões novas que não achara em outras obras moldadas no mesmo tema. O Sr. se revela, no SENHORA DE ENGENHO um exímio pintor de caracteres”.
“Usted que acaba de producir uma hermosa novella SENHORA DE ENGENHO, tiene inegables virtudes de novellista que lo senalam para um triumpho definitivo y próximo”.
“(...) É um romance que tem andado, aqui, de mão em mão e não sai de nenhuma delas sem os maiores gabos”.
“Mário Sette compreendeu isso e realizou, em SENHORA DE ENGENHO, um bom livro. Basta dizer que há páginas de um tão forte poder descritivo, que são verdadeiros espelhos mágicos aos exilados, aos filhos desse nordeste, aos ‘transplantados’ do ambiente das fazendas cheias de céus tranquilos, rios claros, árvores consoladoras, campinas verdes e capelas brancas, e amores de criaturas como essa Maria Bethânia – lírio silvestre de pureza e resignação, toda amor, tão grande que vai até o sacrifício de calar esse amor por toda a vida (...)”
“SENHORA DE ENGENHO tem como teatro uma pequenina aldeia pernambucana - Tracunhaém – é, portanto, um trabalho genuinamente nacional o que lhe aumenta o valor”.
“Este objetivo (o do amor à terra natal) ressalta de todos os capítulos do livro de Mário Sette, desde o primeiro em que abre aos nossos olhos embevecidos as portas vetustas do solar de águas Claras, a cujos velhos donos a gente tem vontade de beijar as mãos, e de enxugar as lágrimas, naquele triste dia em que os deixa o filho único, rumando para a Guanabara famosa as suas esperanças de luz de gozos, de liberdade, de fama”.
“SENHORA DE ENGENHO é uma das mais belas obras que tenho lido nestes últimos tempos”
Fonte: Cinematographo (obra eficiente de propaganda do norte intelectual) SETTE, Mário. Outros Olhos... Recife: Edição da Casa America Evaristo Maia, Praça Independência n 37, 1ª edição, 1921.