ROSAS E ESPINHOS (1918)

Contos: Clarinha das Rendas; Rosas; A Esmola; Cabellos brancos; O Segredo; O Dever; A Vingança; Castellos; Renúncia; Espinhos.

Réclus, num de seus formosos trabalhos, tratando da configuração da terra, fala na harmonia dos contrastes, - paradoxo que é bello sobre ser exacto.
Na vida, os sacrifícios e os sorrisos entretecem também uma harmonia, alternam a bonança espiritual com as dores silenciosas: os homens a lutar no trabalho pela doçura do tecto, as creanças a se crerem torturadas no estudo para que se tornem sábias, as mulheres a soffrer para serem mães.

Maria Amália Vaz de Carvalho escreveu certa vez: “É bem pesada neste mundo a cruz das boas mães, mas não te esqueças nunca, minha filha, que, mesmo nesta hora de tantas lágrimas, eu confesso bem alto, não há rosas mais frescas, mais puras, mais orvalhadas do que as rosas que enfloram e entrelaçam essa cruz”.
ROSAS E ESPINHOS será essa harmonia dos contrastes do coração humano: no rosal da fortuna as mãos se ferem para a colheita ambicionada das rosas; por vezes ellas se despétalam antes de serem beijadas, mas esses espinhos são esquecidos na volupia do hálito suave e olente das flores.
Si o livro carecesse de um symbolo, elle o teria nessa mãe dolorosa, que vimos um dia, ao pé de um esquifesinho enflorado, soberana no seu dever e no seu amor, amamentando o filho pequenino, tendo um sorriso enternecido para aquelle que vivia, entre lágrimas a descerem dos olhos cheios de saudade pelo que se ia…

Fonte: SETTE, Mário. Rosas e Espinhos. Recife: Imprensa Industrial, 1918.