Contos: Clarinha das Rendas; Rosas; A Esmola; Cabellos brancos; O Segredo; O Dever; A Vingança; Castellos; Renúncia; Espinhos.
Réclus, num de seus formosos trabalhos, tratando da configuração
da terra, fala na harmonia dos contrastes, - paradoxo que é bello sobre
ser exacto.
Na vida, os sacrifícios e os sorrisos entretecem também uma harmonia,
alternam a bonança espiritual com as dores silenciosas: os homens a lutar
no trabalho pela doçura do tecto, as creanças a se crerem torturadas
no estudo para que se tornem sábias, as mulheres a soffrer para serem
mães.
Maria Amália Vaz de Carvalho escreveu certa vez: “É bem
pesada neste mundo a cruz das boas mães, mas não te esqueças
nunca, minha filha, que, mesmo nesta hora de tantas lágrimas, eu confesso
bem alto, não há rosas mais frescas, mais puras, mais orvalhadas
do que as rosas que enfloram e entrelaçam essa cruz”.
ROSAS E ESPINHOS será essa harmonia dos contrastes do coração
humano: no rosal da fortuna as mãos se ferem para a colheita ambicionada
das rosas; por vezes ellas se despétalam antes de serem beijadas, mas
esses espinhos são esquecidos na volupia do hálito suave e olente
das flores.
Si o livro carecesse de um symbolo, elle o teria nessa mãe dolorosa,
que vimos um dia, ao pé de um esquifesinho enflorado, soberana no seu
dever e no seu amor, amamentando o filho pequenino, tendo um sorriso enternecido
para aquelle que vivia, entre lágrimas a descerem dos olhos cheios de
saudade pelo que se ia…
Fonte: SETTE, Mário. Rosas e Espinhos. Recife: Imprensa Industrial, 1918.